Reflexões sobre o exercício da cirurgia

Especialidade: Cirurgia Geral

A medicina é ciência e também arte. A cirurgia, um dos seus ramos mais nobres, tem acentuada aquela última característica e por isso exige dos que a praticam aptidão e sensibilidade. A clara consciência de suas responsabilidades perante o ser humano como seu paciente, deve ter a humildade de reconhecer e procurar corrigir suas próprias carências em benefício dos que o procuram em busca da saúde perdida.

Existe prova de confiança maior numa relação humana do que entregar-se alguém anestesiado, desacordado, inerte, a um semelhante acordado e armado? É como a entrega de uma declaração assinada concedendo ao médico todos os poderes para fazer do seu corpo o que julgar conveniente, decidindo do seu futuro, da sua própria vida. Em momentos como este, quando vejo diante de mim um paciente naquelas condições, peço a Deus que me ilumine e me conceda, em toda a sua plenitude, a capacidade de corresponder à confiança daquele ser humano que depositou em mim todas suas esperanças. Chego mesmo a pensar que o principal instrumento do cirurgião não é o seu bisturi, mas a consciência das suas responsabilidades e das suas limitações, o que me leva a procurar aprimorar-me mais e mais por todos os meios ao meu alcance, para fazer jus aos poderes de que disponho, em tais condições, sobre a própria vida dos meus semelhantes. É quando sinto mais forte o peso da missão do médico, que não tem paralelo nas relações humanas.

A indiferença, a falta de sentimento do cumprimento do dever e de respeito a si mesmo e à sua profissão, a impossibilidade de aquilatar a importância do seu papel na sociedade, esta soma, enfim, de irresponsabilidade levará a mais nobre das profissões ao descrédito e ao desprezo por parte daqueles que dela necessitam.

É por tudo isto que se recomenda ao profissional que, ao sentir dificuldades em entender as dúvidas, as ansiedades, as expectativas e mesmo os questionamentos dos pacientes e dos familiares, troque de lugar com eles e rapidamente compreenderá todo o seu drama.

Sei, por experiência própria, que quanto maior for a confiança do cliente em seu médico, tanto menores serão a sua ansiedade e insegurança. Quantas vezes testemunhamos bloqueios e regressões em pessoas instruídas, de posição elevada na sociedade e até mesmo em profissionais de saúde frente a situações de gravidade, abdicando do seu próprio julgamento para aguardar uma palavra de esperança do médico em que confiam.

A mente humana é complexa e, muitas vezes, incoerente, levando o paciente a atribuir a seu médico a culpa dos seus males. Este fato é reconhecido, mas não deve servir de pano de fundo para encobrir erros e omissões. O caráter e a dignidade do profissional são a garantia de que tal fuga de responsabilidade não acontecerá.

Lembrando Fernando Paulinho. O saudoso mestre distinguia dois tipos de erros: o primeiro, acontecendo em condições adequadas e cometido por profissional qualificado; o segundo, por negligência, incompetência ou fraude, praticado por profissional sem a necessária qualificação.

Na avaliação do primeiro caso, devem-se ter em mente aspectos éticos, técnicos e emocionais. Tratando-se, na hipótese, de profissional qualificado, espera-se que o médico redobre seus esforços de aperfeiçoamento, submetendo-se sua mente e suas ações a uma vigilância contínua, diminuindo assim as possibilidades de atuar em sucesso. O papel do médico é este: afastar pelo estudo e pelo exercício diuturno todas as possibilidades de intervenção da indesejável e imprevisível fatalidade, que, inesperadamente, pode anular todo o esforço humano, toda a vontade de acertar, atingindo, muitas vezes, uma posição conquistada ao longo dos anos pela incontestável aquisição de conhecimentos na área de atuação profissional e afetando uma proposta pessoal de auto-superação em busca da utópica infalibilidade. Em momentos como esses, em face do inevitável, é que nos conscientizamos da fragilidade da condição humana, assim como de todas as suas conquistas. É quando nos imbuímos de humildade, mas sempre determinados a recobrar ânimo para frustrar qualquer possibilidade de fracasso.

A soma da competência dos profissionais de saúde como um todo com os recursos hospitalares disponíveis permitirá um trabalho profícuo para a cura e alívio dos pacientes. Provido assim dos meios materiais de que necessita para a execução do seu trabalho, pode o cirurgião, no silêncio da sala de operações, cercado por seus auxiliares e envolto em um ambiente de circunspecção e profundo respeito pela vida humana que se entregou confiante em suas mãos, cumprir sua tarefa de ajudar o próximo.

Em tais momentos. Os extremos se tocam. A simplicidade com a complexidade e a humildade com o orgulho. Que estejamos à altura de atuar como verdadeiros e autênticos instrumentos de Deus.

Texto da Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões
Clínica de Cirurgia Geral e Videolaparoscópica
Médico: Dr. José de Ribamar Saboia de Azevedo

Dr. Ribamar | Barra Tel.:  (21) 3518-4550, (21) 3444-5934 | Botafogo Tel.: (21) 2539-2097 | contato@ribamarazevedo.com.br

 

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